segunda-feira, novembro 19, 2012

Todo amor que houver nessa vida.



Amor vem de amor. Vem de longe, vem no escuro. Vem de dentro e fundo e com urgência. Amor vem de amor. Que não cabe, mas assim mesmo a gente guarda. A gente empurra, dobra, faz força, deixa amassado num canto, no peito, no escuro, dentro, ou larga pegando sereno. Amor vem de amor.Vem do pedaço mais feio, do mais sem palavra, do triste, vem de mãos estendidas. É tecido desfeito pelo tempo, amarelecido pelo tempo, pelo cheiro da gaveta fechada, pelo riscado do sol na madeira. Amor vem de amor. Vem de coisa que arrebata, vira chão, terra, cisco, resto, rastro, coisa para sempre varrida. É delicadeza viva forte violenta. Que faz doer, partir, deixar caído. Amor vem de amor. E dói bonito.

Eu sinto muito blues.



Um dia a gente toma jeito, se beija, e descobre o cheiro do rosto, a força do hálito e o tom dos nossos olhos, assim bem de perto. Isso eu já planejei mil vezes e estou esperando o momento certo, assustadoramente perdido no caminho errado. Sei que se me puxar pra dançar, vai fazer calor em mim, o vento pode virar e é capaz de chover. Sei também que darei um jeito de ter uma das minhas crises de vinte e cinco espirros consecutivos. Porque, você sabe, sou patético e não sei lidar. Mas não adianta, festa começa, festa termina, você sempre dá um jeito de partir sem mim e o meu coração em dois. E sozinho, mais uma vez, eu vou pra casa te amando em dobro.

Observadores, observa-dores.



Contudo, todos nós precisamos de fuga. As horas são longas e têm de ser preenchidas de algum modo até nossa morte. E simplesmente não há muita glória e sensação para ajudar. Tudo logo se torna chato e mortal. Acordamos pela manhã, jogamos o pé para fora da cama, colocamo-los no chão e pensamos ‘ah, merda, e agora?

Como tu tá hoje?



É como dirigir à noite numa rua deserta e toda esburacada. Uma agonia doida. Um vazio. Uma vontade de sair da própria pele e telefonar, só pra te ouvir falando suas monossílabas pra dentro.

Toque em sua alma, toque alguma música.



É, amigo, mas ela anda longe, perdida num mundo lírico e confuso, cheio de canções, aventura e magia. E você nem sequer toca a sua alma.

Vincent.



Sou isso, uma espécie de heroína lepidóptera nascida pra inibir crimes passionais. Mas só à noite. Acha mesmo que vou sair na rua só pra comprar o jornal do dia e consultar sua intenção de me ligar no horóscopo? O interessado não dá desculpas, dá um jeito. Quando essa hora chegar, o dia já se foi, meu signo já aconselhou a agulha do meu disco trocar de música: dorme e acorda amanhã, num novo dia.

Pra mim: a sorte de ter o teu mundo no meu.



A tua presença entra pelos sete buracos da minha cabeça. A tua presença, pelos olhos, boca, narinas e orelhas. A tua presença paralisa meu momento em que tudo começa. A tua presença desintegra e atualiza a minha presença. A tua presença envolve meu tronco, meus braços e minhas pernas. A tua presença transborda pelas portas e pelas janelas. A tua presença silencia os automóveis e as motocicletas. A tua presença se espalha no campo derrubando as cercas. A tua presença é tudo que se come, tudo que se reza. A tua presença coagula o jorro da noite sangrenta. A tua presença é a coisa mais bonita em toda a natureza. A tua presença mantém sempre teso o arco da promessa. A tua presença morena, morena, morena, morena, morena, morena, morena…

Pra ti: o mundo.



Você foi covarde. Com sua ternura pálida, seu medo de tudo, sua polidez em cumprir as promessas. Você não aprendeu a mentir. Tampouco aprendeu a dizer a verdade. O dia está escuro e não soprarei a luz ao seu lado. O dia está lento e não haverá movimento nas ruas. Você não revidou nenhuma das agressões, não revidará mais essa. Você foi covarde. A mais bela covardia de minha vida. A mais comovida. A mais sincera. A mais dolorida. O que me atormenta é que sou capaz de amar sua covardia. Foi o que restou de você em mim.

Meu Deus, o que será que tem nesses olhos teus?



Abre os teus armários, eu estou a te esperar, para ver deitar o sol sobre os teus braços castos. Cobre a culpa vã, até amanhã eu vou ficar, e fazer do teu sorriso um abrigo. Canta que é no canto que eu vou chegar, canta o teu encanto que é pra me encantar, canta para mim, qualquer coisa assim sobre você, que explique a minha paz, tristeza nunca mais. Mais vale o meu pranto que esse canto em solidão. Nessa espera o mundo gira em linhas tortas, abre essa janela, a primavera quer entrar, pra fazer da nossa voz uma só nota. Canto que é de canto que eu vou chegar, canto e toco um tanto que é pra te encantar, canto para mim qualquer coisa assim sobre você, que explique a minha paz, tristeza nunca mais.

Nadar ou nada.



Então você pula, engole muita água, sente dor no corpo, cai em si, começa a mexer os braços e pensa: ou eu nado ou eu morro. E você decide viver. Mesmo que pra isso tenha que morrer nadando.