Se você tivesse chegado antes, eu não teria notado. Se demorasse um pouco mais, eu não teria esperado. Você anda acertando muita coisa, mesmo sem perceber. Você tem me ganhado nos detalhes e aposto que nem desconfia. Mas já que você chegou no momento certo, vou te pedir que fique. Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. Esse é um pedido egoísta, porque na verdade eu sei que se nada der realmente certo, vou ficar sem chão. Mas por outro lado, posso te fazer feliz também. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão.
O imprevisto acontece e alguém te encontra. E te reecontra. Te reinventa. Te reencanta. Te recomeça.
sábado, junho 18, 2011
Tocar você.
Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo e tanto medo. Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio – tão cansado, tão causado – qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um caminho. Esse, simples mas proibido agora: o de tocar no outro.
sábado, junho 11, 2011
Let it be.
Te escrevo porque é noite, está quente e me convém. Ando íntima de pessoas tão perversas. Faço barulho, berro de prazer e dou dentadas em pedacinhos de vida. Tenho conversado com tanta gente, tenho me sentido tão longe de todo mundo. Ninguém me traduz. Virei um deserto e nada mata minha sede. Gente demais me dá um silêncio, cara. Pra agora, eu só queria quê… conversas baixinhas, brincadeiras com minhas mãos, uma sacudida com qualquer filosofia fodida, dilacerada, porque a poesia já acabou faz tempo. Ontem arranquei coisa pra caramba aqui de dentro. Com minhas unhas, mesmo. Te liguei e fiquei muda, de repente. Em minha voz não coube o excesso de palavras. Ela despenca ao te ouvir, antes de ser entregue. E se de repente eu te escuto, vou para a rua. Você me leva. Atraso passos, te imaginando na esquina seguinte. Batuco músicas com os dedos, sentada à mesa, enquanto meu coração pulsa teus passos inexistentes. Sinto teu cheiro pelo corredor. Segundo andar. Você sorriria ao me ver assim, vestida de mim, e só. Ninguém sabe me traçar com os olhos como você faz.
Já é tarde e eu estava precisando sentir. Sentir. Sentir tudo. O poeta disse: é preciso estar sempre embriagado. É preciso, sim. Embriagado de vinho, vida ou um sorriso teu. Porque por um instante eu perco o medo de me entregar. De ser. E penso que o amor é essa coisa assim, que tomam de você a vida inteira. E sempre vai ter. Sempre tanto. Tanto. É como quando você me deu aquele último abraço e eu me descobri cheia de corações. Seria impossível tamanho rebuliço por conta de um só pulsar. Eu tenho um coração em cada canto. Um acúmulo bonito de coisas que não consigo nem mostrar.
Te escrevo porque, caminhando, vi uma coisa desse jeitinho, todinha azul, completamente blue e lembrei de você. Pessoas sorrindo, um amor acontecendo em algum lugar. E quando o relógio anunciar as duas horas da madrugada, eu escrevo mais uma taça e saio daqui poema…
Eu quero muito ser feliz, cara. Com ou sem toda essa nossa simbiose monstra. A vida é muito mais barra sem você, constato. Te envio então esses meus recortes de um decalque quase-romântico. E te escrevo porque sempre haveremos de ser necessários.
A gente sempre sabe.
Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina – ela repetiu olhando-se bem nos olhos, em frente ao espelho. Ou quando começa: certo susto na boca do estômago. Como o carrinho da montanha-russa, naquele momento lá no alto, justo antes de despencar em direção. Em direção a quê? Depois de subidas e descidas, em direção àquele ponto seco de agora. Restava acender outro cigarro, e foi o que fez.
quarta-feira, junho 08, 2011
Se for pra reescrever minha vida, vem.
Mas eu queria reclamar, conversar, entender, decidir. Ou então gritar, berrar, rugir, enlouquecer até você verbalizar uma improbabilidade tal como "garota, cala essa boca lotada de pequenas palavras mal escolhidas e vê se escuta isso: eu amo você demais". Como fazem nas histórias da locadora que não temos paciência de assistir. E hoje, isso de amor é muito blá.
Cansei de caçar seus verbos soltos. Se for pra calar minha boca, vem. Se for pra reescrever minha vida, vem. Mas que seja à caneta.
Bons amigos.
Me restou a consideração que você guardou por mim. Sua ligação depois, quando me encontra. Sua mão estendida. Sua lamentação pela vida como ela é. Sua gentileza disfarçada de vergonha por não gostar mais de mim. A maneira que você tem de pedir perdão por ser mais um cara que parte assim que rouba um coração. Finjo que aceito suas considerações mas é apenas pra ter novamente o segundo. Como o segundo do meu nariz na sua nuca quando consigo, por um segundo, te abraçar sem dor. O segundo do seu nome na tela do meu celular. O segundo da sua voz do outro lado como se fosse possível começar tudo de novo e eu charmosa e você me fazendo rir e tudo o que poderia ser. O segundo em que suspiro e digo alô e sinto o cheiro da sua sala. Então aceito a sua enorme consideração pequena, responsável, curta, cortante. Aceito você de longe. Não se digere amor, não se cospe amor, amor é o engasgo que a gente disfarça sorrindo de dor. Aceito sua consideração de carinho no topo da minha cabeça, seu dedilhar de dedos nos meus ombros, seu tchauzinho do bem partindo para algo que não me leva junto e nunca mais levará, seu beijinho profundo de perdão pela falta de profundidade. Aceito apenas porque toda a lama, toda a raiva, todo o nojo e toda a indignação se calam para ver você passar.
Nenhum de nós.
Às vezes a saudade é tão grande que nem é mais um sentimento. A gente é saudade. É viver para encontrar o olhar da pessoa em cada improvável esquina, confundir cabelos, bocas e perfumes, sorrir com os lábios tendo o coração sufocado. Porque mesmo a saudade sendo feita para doer, às vezes percebemos que ela é o meio mais eficaz de enxergar o quanto amamos alguém, no passado ou no presente.
Me deixa te amar.
Me diga que está triste, eu consolo. Me diga que nunca foi tão feliz, eu concordo. Me ame ou me odeie. Me mande pra puta-que-o-pariu ou me convide pra ir com você. Exploda na minha cara ou se derreta na minha mão. Deixa eu te ver morrendo de tanto rir ou com vergonha das olheiras de tanto chorar. Só não me esconda o rosto. Me abrace, me esmurre, me lamba ou me empurre.
Onde houver sol, lá estará ela, parada, sorrindo pra você.
Pra ninguém, você pergunta se ele também pensa em você. Sem resposta, mas claro que sim. Com sombras de dúvida. Ninguém apaga tudo assim. Ele também ouve "Fix You" com o olhar triste no céu escuro da varanda. Claro que ouve. Aí você começa a desconfiar que ele poderia ter sido o cara legal da sua vida. Isso, se você sentisse a mesma paixão, se você conseguisse entregar sua alma tanto quanto, se você soubesse amar ele do mesmo jeito e intensidade que ama a falta que agora ele te faz.
Eu poderia.
Eu poderia me reinventar te contando como passei meus últimos dias, mas penso que as informações seriam meio incompletas, só sei do gosto de vodca e preguiça que não levantam comigo. Os papos chatos, os sabores de beijos secos que não se sobrepõem ao seu na minha língua, as músicas altas demais que ouço com a manifesta intenção de estourar um tímpano, e explodir dentro de mim tudo que você ainda representa.
Se erra. Se perde. Se diz. Se engana.
Se dessa vez for amor, eu juro, não vou deixar o melhor pro fim. Então, ficaí. Sentado, com os braços cruzados, sem falar nada muito diferente ou contar sobre algum plano futuro. Só ficaí. Pode ser com aquela cara de bravo que inexplicavelmente me deixa com um puta tesão desgraçado. Ficaí sem pensar em nada, em ninguém, sem lembrar da infância na praia ou alguma ex-namorada ainda obcecadamente nostálgica pela sua cara de bravo.
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