Fui pra rua procurar encrenca. Eu precisava de algo forte que me tirasse a palidez. Eu precisava ver gente ou dançar ou cair de joelhos no chão, bem no meio da rua. Assim eu corria o risco de pelo menos alguém se oferecer para me ajudar. Só há notícia quando há um corpo no chão. Ouvir uma piada ou testemunhar um atropelamento, tanto faz, era rir ou chorar, mas, por favor, sair daquela preguiça horripilante de processar a informação.
Eu precisava dar uma volta para resfolegar e terminei a noite no submundo das emoções. A sala está rodando, como o manche de um avião mudando as diretrizes que eu quis pra mim. É assim mesmo, você conhece alguém, tira os pés do chão e sai voando. Como um avião, que quando a gasolina acaba e você sente que está caindo, não há muito o que fazer. Da próxima vez vou de trem. Eu achei que tinha encontrado minha verdadeira vida, meu amor, minha casa e meus cachorros. Como aquele poema que li na adolescência e achei estupendo, e agora na vida adulta não consigo achá-lo. Porque esqueci de anotar o título, o nome do autor, e sequer ousei arrancar a página na biblioteca a fim de deixá-lo amarelar num porta-joias seguro. Mas não. O que eu vivia defendendo na frente dos outros e chamando de estabilidade era só piloto e co-piloto com preguiça e medo de pegar no manche, se amando no automático. Luzes piscam na minha cara e eu fico interpretando o que elas querem me dizer. Quando alguém te trai, você se decepciona e é forçada a partir do zero. Dando o troco você acaba desapontando você mesma, e aí acaba no negativo em termos de enganações. Nunca tinha notado que a lua é tão feia, quando assim, resolve sapatear sobre a minha cabeça. Estou voltando pra casa. Nas mãos fechadas bem forte, há uns trocados que recebi após pagar ilusões inflacionadas com todo o meu amor. Foi o que me restou a oito quadras de casa. Não dá nem para um táxi. Vou andando sozinha rente a um muro alto e sujo. São seis da manhã. Não acho ninguém perdido na calçada pra me contar a que horas nasce o sol em quartas-feiras.